quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Pelas retinas dele
me faço brincadeira
E fico assim até descançar
a minha alma brincante
no abrigo cristalino
do seu jardim de sonhos

sábado, 27 de dezembro de 2008

Bebo o presente contigo
suspiro em compassos de futuro
e entendo que a primeira vez que te vi
foi há algumas vidas atrás

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Palavras dele

"farei uma igreja com teu nome e tú serás a minha religião"

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem
importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."

Bernardo soares

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Lembro da sua voz falando de mim, fazendo-me rir, seus olhos me construindo a imagem. Transforma-me. Pinta-me como a um pavão e me traz um suspiro. Lembro dos seus dedos e da sua força em mim. Canta-me um caminho. Insiste em mudar-me de planeta. Cuida da minha gripe como que cuidando, sem se dar por isso, da minha frieza. Já não sinto medo.
Que me importa se amanhã nada existe mais? Que me importa se os ventos levam os nossos olhares para outras direções? Que me importa se estranho é o meu jeito de amar?

sábado, 22 de novembro de 2008

Para brindar com pisco

Fico com seu cheiro, e como que embalada pelo meu presságio,
descanso no conforto da sua poesia. Me diz que não sou
estranha, conhece a textura da minha pele e sorri encantado
numa canção. Será que estávamos então combinados? Fala da
liberdade do meu espírito e me mostra os sons do seu. Acha
que vim de outro planeta. Não falo de mim, deixo que
orquestre o encontro. Escuto e observo. Tento compreender a
riqueza daquela horita. Leio seu corpo. Fotografa o meu.
Pára para devaneiar na luz que reflete nas minhas costas.
Entrelaces de pernas, um som andino vem da sala. Só há
presente. Tudo é estranhamente conhecido. Tudo é
estranhamente bonito...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

GABRIEL

Menino bonito de língua atrevida
Um pontinho de luz
Manda notícias dos seus mais novos 1 metro e 23 centrímetros
Quantos deles eu perdi?

Enche nossas vidas de graça
Sorriso frouxo
Ainda te faltam dentes?
Corpinho de pato
ou será de pinguim?

Brincamos juntos nos meus sonhos
Ao acordar
Vejo que a brincadeira acabou
Estou longe da sua alegria

No friozinho dessa montanha
Sua lembrança é o cobertor da titia
ESPANTO:Perdi o encanto!
Menino, se eu te pego
Te levo para alguma esquina do mundo
e despejo em você o despero dos dias de abandono
Saí
Alí
Fui

Corri
Sorri
Caí

Aí,
Perdi a rima
reviro-me entre os fungos da minha memória
e te encontro encantado em frestas de pensamento
revivo o seu gosto
quem é você, ser de Leão?
que poder tens de me fazer abandonar a mim?
E lá ela está
partida a minha alma
a solidão me caça
depois de você
os ventos só passaram
seu furacão ainda bagunça a minha calma
desarruma minha ordenada prateleira de desgostos arquivados
acho-te em mim a todo tempo
te afasto do meu raio
mas teu espectro ronda ronda ronda
segundos de ilusão: pensei ter te esquecido
mas você vive em mim
como um parasita
já nada me trás nem me tira
nem mesmo o sono ou o fôlego
mas nada tira você de mim
e se eu me perguntar se existe amor
não tenho respostas
só as mesmas velhas dúvidas de antes
quando me deixei perder
para nunca me encontrar
nunca

domingo, 5 de outubro de 2008

e por me atraver a ser feliz, embarco no desconhecido...
sinto a sonoridade da existência em mil arrepios de vento que passa e o mundo vem até a mim e se mostra nú... e eu, humana, temo, mas não ha tempo. A entrega urge e diante de mim está um cardápio de sensações que os dias me oferecem. Provo-as! Trago para mim a inexplicação de tudo e deixo que em mim entre o novo...

sábado, 4 de outubro de 2008

Frio que entra nos ossos e assombra minha carência... pede um calor de você, que assim como chega se vai. De tarde, você se mistura com as cores do outono e a gente sorri, porque não há mais tempo nesse mundo. De noite, o calor dos lençóis dá lugar ao convite à solidão calendária. E eu olho para mim com olhar de névoa fria, e me sinto gelando. Olho ao redor: escuridão e seu cheiro. Amanhã, serei só eu novamente, inteira, sempre buscando.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

É um furacão que passa em mim e que me vira do avesso algumas vezes ao dia!
Do tempo de levar folhas caídas para cama e saber sonhar com o suspiro do próximo dia...
Será que meu cérebro está tomando banho?
Foi assim que cheguei. Segui o caminho que me leva a você, mundo, e trouxe muitos olhares comigo. Caminhar: verbo no infinitivo.
Para onde vai?
Para onde vamos?
Por aqui tudo passa, tão assim como esse outono...
Só porque me pergunto para onde vai o mundo... Leva-o contigo nos seus braços para que do seu carinho nasça um novo dia...

Ei, Dona Wal!

... e quando for de manhã e reparar que a minha caminha está vazia, sonha com meu cheiro, porque irreal é a nossa existência...
um tantinho de riso largo... suave, bom e besta

quinta-feira, 13 de março de 2008

vem que te chamo
vem que se perder é um artifício
vem que te tenho
que por aqui arde um suplício
vem que por aqui demora
e a minha hora parte
vem que te quero apenas no agora
que o resto é arte
vem que não te espero
porque meu tempo
rezo para que ele acabe

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bom Conselho

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade


Chico Buarque

Pelas tabelas

"Claro que ninguém se importa com a minha aflição"
Asperezas,
Áspero o dia porque febril
da efemeridade das coisas
que ardem e evaporam
para nunca mais
Para muito mais que um lugar no tempo
Para o que há na existência
Na inexistência
Na amplitude de conceitos
que buscam qualquer sentido

sábado, 23 de fevereiro de 2008

As letras que seguem
nascem da implosão contida
da mente em cubos
escorrem para o nada do papel
para nada dizerem
Apenas por escorrer
Apenas para desimpregnar esta alma
cheia de nãos
cheia de nada
O universo ao redor expande
o eu reduz
É preciso expandir para além-mar...

Já passou

Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já sarei, já curou
Me pegou de mal jeito
Mas não foi nada, estancou

Já passou, já passou
Se isso lhe dá prazer
Me machuquei, sim, supurou
Mas afaguei meu peito
E aliviou
Já falei, já passou

Faz-me rir
Ha ha ha
Você saracoteando
Daqui prá acolá
Na Barra, na farra
No forró forrado
Na Praça Mauá, sei lá
No Jardim de Alah
Ou num clube de samba

Faz-me rir, faz-me engasgar
Me deixa catatônico
Com a perna bamba

Mas já passou, já passou
Recolha o seu sorriso
Meu amor, sua flor
Nem gaste o seu perfume
Por favor
Que esse filme
Já passou

Chico Buarque