sábado, 23 de fevereiro de 2008

As letras que seguem
nascem da implosão contida
da mente em cubos
escorrem para o nada do papel
para nada dizerem
Apenas por escorrer
Apenas para desimpregnar esta alma
cheia de nãos
cheia de nada
O universo ao redor expande
o eu reduz
É preciso expandir para além-mar...

Já passou

Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já sarei, já curou
Me pegou de mal jeito
Mas não foi nada, estancou

Já passou, já passou
Se isso lhe dá prazer
Me machuquei, sim, supurou
Mas afaguei meu peito
E aliviou
Já falei, já passou

Faz-me rir
Ha ha ha
Você saracoteando
Daqui prá acolá
Na Barra, na farra
No forró forrado
Na Praça Mauá, sei lá
No Jardim de Alah
Ou num clube de samba

Faz-me rir, faz-me engasgar
Me deixa catatônico
Com a perna bamba

Mas já passou, já passou
Recolha o seu sorriso
Meu amor, sua flor
Nem gaste o seu perfume
Por favor
Que esse filme
Já passou

Chico Buarque